sábado, 31 de dezembro de 2011

Todas essas coisas.

Hoje resolvi contar coisas tristes.
Histórias de pessoas quaisquer.
Um homem que amava demais
e uma mulher que amava de menos.
Um velho que tinha pouco tempo
e um jovem que tinha tempo para vender.
Uma pessoa que era
e outra que fingia.
Resolvi contar tudo que já vi,
tudo que você já viu também.
Hoje resolvi que o mundo
é preto e branco.
Pessoas que vivem
e pessoas que sobrevivem.
Pessoas que tem
e pessoas que rezam para ter.
Pessoas que são
e pessoas que desistiram de ser.
Hoje resolvi contar
tudo aquilo que você está cansado de saber.
E talvez, quem saiba,
todas essas coisas tristes
vão além do que se vê.

Coisas de querer
e não poder ter,
todas essas coisas tristes
que um dia já mostraram a você.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Triste.

Faça-me triste.
Dê-me aquele beijo
com vontade, com paixão,
mas beija dizendo adeus
pra me fazer triste
e ir embora pela contramão.

Faça-me triste.
Vamos, meu bem.
Olhe para mim
com aquele olhar deprimido
e me dá aquele abraço
pra me fazer triste
e ir embora pela contramão.

Faça-me triste,
por favor meu amor.
Contamine minhas coisas
com seu cheiro intoxicante.
Deixe sua marca de batom no meu rosto
pra me fazer triste
e ir embora pela contramão.

Meu bem,
dorme comigo esta noite
e vai embora sem dizer adeus.
Deixa teu calor e cheiro no lençol
pra me fazer triste
e ir embora pela contramão.


sábado, 19 de novembro de 2011

Jovens.

Nos amaremos enquanto jovens.
Respiraremos o perfume
um do outro nos embriagando com o odor.
Juntaremos nossos corpos,
de pele macia e lisa,
e nos marcaremos
um no outro com o toque.

Olharemos nossos rostos,
nos afundaremos em nossos olhos.
Iremos divagar,
entre os contornos e linhas
de nossos corpos jovens,
de nossos corpos de amantes.
Olharemos um ao outro
para nos fotografar.
Uma imagem
para todo o sempre.

E assim será.
Nos amaremos enquanto jovens,
para que quando velhos e cansados,
não sintamos o odor da velhice e da morte,
mas sim o cheiro perfumado
que nos tragou um para o outro.
Nos amaremos enquanto jovens,
para que quando velhos e cansados,
não sintamos o toque da pele enrugada,
mas sim o toque
que nos difere nos cegos na multidão.
Nos amaremos enquanto jovens,
para que quando velhos e cansados,
nossos olhos apagados e inexatos,
não nos mostrem falsas imagens
ou deixem transparecer o tempo em nossos rostos,
mas sim, para que ao olharmos um para o outro,
enxerguemos somente a fotografia eterna
de dois amantes para quem o tempo não passa.

Nos amaremos enquanto jovens
porque mesmo que o tempo
venha a consumir nossa vida,
a chama que cultivamos com força,
com viço, com vida nova,
se mantenha além de nós
queimando para sempre.
Sempre jovem e eterna.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Corra.

Corra, Miguel, corra. Está frio e a chuva é incessante, mas em momento algum, meu franzino Miguel, pare de correr. Não pare para que seu corpo não esfrie, seu sangue não congele e engrosse e suas veias não aguentem a pressão, não pare para que seu coração continue batendo e sua mente continue alerta. Ah, caro Miguel, não pare de correr. Mas eu vejo, caro Miguel, que você não quer parar, pois olhem lá, é Miguel, ele vem correndo, sem parar, sem tropeçar. Miguel, aonde você vai com tanta pressa? Sei que corre para viver, Miguel, mas vive para quê?
Miguel, corra! Continue, não pare, vejo que apesar desse corpo magro, dessa pele branca e desses olhos fundos, você tem forças. Não questiono sua fonte, sei que é forte por si só, aquela força que todos carregam dentro de si e que alguns conhecem e outros a tem mas nunca a viram. Percebo que não é você quem corre, meu caro Miguel, vejo que é a sua alma que te puxa violentamente, como um pedaço de metal sendo puxado por um imã gigantesco. Você poderia resistir, mas vejo que não, abandonou a consciência e corre livremente, queria saber o que é isso que desperta tamanha paixão em você, Miguel, mas creio que se soubesse talvez não te achasse tão interessante.
Você ainda está correndo, Miguel, mas diga-me, o caminho está quase no fim ou o caminho não tem fim? Vejo que você também não diminui o passo, você não se cansa? Óbvio que nunca me responderá, só estou te observando e imaginando como seria poder lhe perguntar tudo isso, porém, imagino que você não me responderia, nada explica a fome de tudo, a paixão, a vontade, por isso você corre, meu caro Miguel. O que é isso no seu rosto? Chuva, suor? Não, não é isso que escorre dos seus olhos, que tem gosto salgado. São lágrimas. Miguel, choras por quê? Não acredito que seja seu corpo que dói, é a sua alma que queima, não é? Sua paixão e sua vontade te consomem. Por isso corre? Para tentar evitar que essa "maldição" te incinere completamente?
Miguel, que expressão nova é essa no teu rosto? De espanto, de desespero, parece seu último suspiro e último impulso. Percebo que você avistou algo, onde está? Não vejo. Miguel, o que é que você vê?! Você está cambaleando, a atração está mais forte mas seu corpo está desmoronando lentamente. Não é cansaço, é a areia da praia que te atrapalha, seus pés afundam e seu corpo se sente tentado a afundar lentamente junto. Sinto que você está chegando mais perto, mesmo assim ainda não avistei o seu objetivo, Miguel. Será que esses meus olhos não enxergam ou será que o que você vê não pertence à minha realidade? Miguel, você parou de correr? Não, corra, sua vida depende de que você corra! Sempre, correndo, ofegando, se jogando, se atirando. Não entendo, por que você está andando tão vagarosamente? Está muito perto, eu sinto. É isso, você chegou.
Miguel desmoronou na areia, molhado pelo vai e vem da maré. Olhos atentos, semi-cerrados, debilmente tentando se manter abertos. Não sei o que aconteceu. Não sei se Miguel foi consumido pela sua paixão ou se morreu de cansaço, sei que Miguel não levanta mais. Adeus, Miguel, não posso mais lhe observar, um outro dia , talvez, eu te verei novamente, correndo por aí, se jogando, se atirando sem pensar.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A cura.

Gosto tanto de você que dói.
Dói porque quando te vejo triste
quero te levantar
e quando você está feliz
quero você,
mas não,
prometi e vou fazer.

E quando estou longe te quero perto
e quando perto me sinto longe.
E quando eu tento dizer adeus,
eu volto,
e quando você se perde
eu te busco.

Eu não sumo,
eu sei que sou uma memória,
é o que eu posso ser.
E quando te disser
que quero ir embora, meu bem,
não é para virar as costas,
nem te dar sorrisos partidos.

E se minha atenção for falha
ou meu carinho faltar,
é porque meu bem,
não estou lá.

É para não morrer no meu conflito,
e não te perder dentro de mim.
Não me olhe com tristeza,
não me olhe com raiva,
me dá compaixão.

Mas se no meio do conflito
eu me perder,
ou se meu corpo não se mexer,
me busca, meu bem,
prometi a você
que não ia te esquecer.

E me cura, meu bem,
cura o mundo,
cure você.
Mas se um dia,
você não souber o que fazer,
sorria como eu pedi a você.
Se lembre de tudo que é bom
e seu rosto vai se desenhar
em contornos vagarosos e luminosos.

E no fim,
seu sorriso
vai curar o mundo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Especial.

Ontem a noite,
bati na tua porta,
você não ouviu.
Ontem a noite,
taquei pedras na janela,
você não percebeu.
Ontem a noite,
me revirei na cama,
mas não te contei.

Minhas noites
terminam mais cedo
e meus dias
começam mais tarde.

Minhas palavras são muitas
e grandes
e densas
e confusas.
Todas minhas palavras
são uma frase só.

Todos os meus pensamentos
são várias reações
químicas e biológicas,
reações em cadeia
que por motivo irracional,
mas conhecido,
desembocam em uma única.

Uma única
fora do meu controle.
Pergunto-me,
por que a química e a biologia
não te limitaram
e te deixaram crescer dentro de mim?
Por que você
foge à regras
e regulamentos vários?

Todo eu era qualquer força que me abandonou,
todo eu, vou morrendo por aí,
matando sua semente
para preservar a força que deixei em você.

A química e a biologia
falham
por que as ciências,
regras e regulamentos vários,
não explicam
o especial nas pessoas.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A falta que nos move.

Não sei bem ao certo o que me movia. Talvez a falta de algo preencheu meu corpo do ar que sopra por aí e o deu vida para andar. A sensação apática, preenchida pelo vazio do ar. Acredito que tudo o que eu tinha foi gasto no meu incêndio interno. Mas não foi o suficiente, ainda deixou brasa. E eu que achei estar longe do fogo, me queimei novamente.
Já estava tão queimado que não senti o peito se incinerando, estava sedado. Mas o mesmo fogo me trouxe febre, confusão criada pelo calor. E eu senti falta da apatia primeiro, depois senti falta de tudo o que você é.
De tudo o que você É.

domingo, 25 de setembro de 2011

De sábado para domingo.

Perdoa o erro
do amante alcoolizado.
Perdoa a "obsessão"
pelo erro.

Tenho a lhe dizer,
que nos cabelos negros,
emaranhados,
enxerguei os seus.
Nos perfumes almiscarados
e nos odores mascarados,
o cheiro que senti
foi o seu.
Pois nos olhos,
enegrecido,
enxerguei o teu íntimo.

Ignora as palavras atordoadas,
do amante alcoolizado,
as palavras que,
provavelmente, no dia seguinte
ele não se lembrará.
E não te assustes
com a extensão da ode
e nem com o acerto
da construção.
Há perfeição
no sofrimento
e cura
no esquecimento.

Perdoa a insistência
do amante alcoolizado
perdido no meio da multidão,
anjo sem face,
sem opção.
Perdoa a franqueza
e fraqueza no meu coração.
Pelo menos,
para me aquiescer da tristeza,
esqueça do seu sofrimento
e seja feliz então.

Tentei chorar, mas não consegui.

Perdoe-me,
amante cego e alcoolizado,
que amanhã há de vislumbrar
um auto-estrago.
Perdoe-me,
sei que me falta razão,
só me resta um retalho
que ouso chamar de coração,
mas não te preocupes,
pois a culpa
não é tua não.

Esquece do teu sofrimento
e seja feliz então,
para aquiescer
uma pequena fração
de tristeza
em meu cansado
e doente coração.

Uma bagunça.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Bagunça.

Meu coração é uma bagunça.
Coração assim,
fora de ritmo,
bem retalhado.
Coração assim,
anti-burguês, anti-burocrata,
coração inconformado.

Meu coração é uma bagunça.
Coração forte,
muito usado,
bem reforçado.
Coração forte,
à prova de balas, à prova de política,
vulnerável ao tempo que passa calado.

Meu coração é uma bagunça,
eu pergunto para você
que o tem na mão:
existe solução
para a bagunça que é meu coração?





Ninguém sabe.

Ninguém sabe o que quer,
mas todos querem.
Ninguém sabe o que pensa,
mas todos pensam.
Ninguém sabe o que é,
mas todos são.
Ninguém sabe o que é amar,
mas todos amam.

Meu deus,
ninguém sabe de nada!
Mas todos vivem,
sem saber.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Reviravolta.

Reviravolta, dá volta em mim.
Reviravolta, dando início ao fim.
Reviravolta, diz pra mim
como muda tudo assim?

Reviravolta, dá pra mim.
Dá pra mim alegria sem fim,
dá motivo pra prosseguir enfim
muda tudo sim.

Reviravolta é roda-viva,
é mudança furtiva,
levando o destino pra lá.

Quando a hora da mudança chegar,
quando o vento soprar,
é a reviravolta trazendo vida nova pra cá.



quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Faça-me.

Quero que hoje
você me faça sorrir
mas faz do seu jeito,
não quero caras engraçadas
nem nariz de palhaço.

Quero que hoje
você sacie minha fome
mas não se engane,
tenho fome de tudo.
Hoje acima de tudo
quero que você me faça feliz.

Não sou egoísta
só peço a você
entregue-se por completo,
por parte, por pedaço, por fração.
Entregue-se nos versos,
nas palavras e nos gestos.
Beba-me, esgote-me,
mas preencha-me.

Saiba que
apesar de muito querer,
sou seu também,
ao escrever estes versos,
ao desejar-te com estas palavras.
Sou seu em cada linha,
cada sílaba, estrofe e verso.

Faça-me ser,
mesmo que por pouco tempo.




sábado, 6 de agosto de 2011

Ser sozinho.

Talvez haja uma necessidade no "ficar" sozinho, no estar "sozinho", no ser "sozinho". Pode ser que que na solidão encontre-se o conforto que precisa. Porque na realidade solidão não é estar sozinho, solidão é o momento em que você se isola consigo mesmo, porque dentro de cada um sempre existirá aquela voz, ou aquela imagem, reflexo, seja a forma que for, sempre existiram pensamentos. Pensamentos que moldam sua essência, dentro de você esses pensamentos tomam forma e refletem o que você é na forma que melhor se adapta. É impossível ser sozinho.
É impossível ser sozinho porque na solidão a pessoa de quem você mais necessita ajuda... é você mesmo. É impossível ser sozinho no mundo porque o mundo necessita de suas ações e você necessita dos frutos delas. É impossível ser sozinho no amor, pois você é fruto de amor mútuo entre pai e mãe, você precisa de outros que necessitem o seu amar. É impossível ser sozinho porque para ser sozinho, você precisa não existir.
É impossível ser sozinho.

sábado, 28 de maio de 2011

Conjuntos.

Existe uma fome desconhecida,
uma sede profunda.
Existe um não dizer silencioso,
permeado de vontade alarmante.

Vontade de te dizer num beijo,
que quero te dar uma palavra.
Vontade de expressar com silêncio,
um desejo estrondoso.
Mas não há palavra que caiba amor,
não há gesto que represente amor.

Pois não cabe amor em palavra alguma,
não cabe amor dentro de mim,
não cabe amor dentro de você.
Cabe amor no infinito, infinito no amor.
Cabe nós dois dentro do infinito,
dentro do amor.

E eis que somos elementos
dentro do conjunto,
somos infinito,
somos amor.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Miguel.

Eram cinco horas da manhã. O sol fraquejava, não havia nascido ainda em brilho e esplendor. A rua calada, gelada, morta, a rua está vazia. Ele se levanta vagarosamente, as mãos tapando o rosto, numa atitude relutante de quem tenta evitar seus deveres. Ele se chama Miguel. Miguel arcanjo, Miguel homem, Miguel estudante, Miguel filho, vários dele em um só. Miguel é branco, não muito, tem um cabelo loiro e curto o qual ele deixa teimosamente bagunçado, porém um bagunçado que parece se adequar corretamente à sua fisionomia. É sadio, não é forte nem magro, dono de olhos profundos, olhos que não se destacam pela coloração verde, mas sim pela intensidade. Miguel que finalmente se levanta, caminha até a varanda, e deixa o ar gelado penetrar-lhe o corpo, mas Miguel não sente frio, sente-se morto.
-Você está morto, Miguel. - E ele se cala olhando o sol laranja lutando para nascer.
Ele veio para a cidade há pouco tempo, Rio de Janeiro. Cidade maravilha, de fato, um lugar deslumbrante em suas várias faces. Deixou para trás amigos, amores antigos, a família, deixou para trás seu berço. Veio se alimentar da esperança de seus sonhos. Não levou muito tempo para se adaptar, pois era versátil, conheceu pessoas novas, criou novos vínculos. Amigos diferentes, namoradas diferentes, uma vida diferente na palma de sua mão. Porém nem tudo que é novo é gratificante, as dificuldades mudam, os monstros da alma tomam novas formas, estranhas, assustadoras. Foi aí que Miguel cedeu. Longe dos verdadeiros amigos, longe da família, não haviam mais alicerces, ele então se fechou. Miguel se matou. Não que tenha se privado de sua própria vida, mas ele se privou da essência dela. Privou-se das felicidades, decaiu sobre as agonias. Privou-se dos amores, decaiu sobre a solidão. Privou-se da existência, decaiu sobre o esquecimento.