quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Cronos sonhou com a noite

Houve um sonho em preto.
Prédios de traços finos,
silêncio absoluto.
Em algum canto remoto,
Cronos sonha com a noite.

As palavras não vivem aqui,
viram pó antes de chegar.
Para onde ir?
O que fazer?
Há tempo antes da noite acabar?

Esses nossos planos...
pairando em sonhos lúcidos.
O tempo definha
em nossos devaneios.

Não há futuro,
nem passado.
Enquanto a lua é engolida
assistimos a morte do tempo.

O sonho se esvai,
o tempo morre.
Cronos sonha com a noite.
Enquanto ele dormia
nós assistimos o tempo nascer de novo.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Lua azul

Ajude-me a subir.
Mergulhei muito fundo nesse oceano.
Eu poderia me encontrar mil vezes nos grãos de areia.
Me perder outras mil.

Eu sonhei que um dia,
eu afundaria nas estrelas.
Anos-luz de distância.
Éons dentro de mim.

Escute com atenção e olhe ao redor.
Não há canto do cisne para se ouvir no mar.
A água contra as rochas.
Fúria e esquecimento.

Não há canções no mar.
Ondas de lembranças.
Correntes de sentimentos.
Lugar para ancorar-se dentro de si.

Afundar no mar é se encontrar.





quinta-feira, 30 de março de 2017

Arquitetura

Eu fiz uma casa
há muito tempo.
Desenhei seus alicerces,
bombeei cimento.

Fiz uma casa
de 4 cantos,
de 4 ângulos,
há muitos anos.

Mobiliei as salas,
preenchi os cômodos:
vozes e silêncio,
pensamentos crônicos.

Pintei as paredes,
aliviei-as da sede.
Desenhei-as em olhares,
sonhei-as na rede.

Eu fiz uma casa
em 4 rimas,
4 alicerces
e 4 sinas.

terça-feira, 28 de março de 2017

Maelstrom

Posso te contar a verdade?
Derramar e apertar,
amargurar a vontade.

Meu peito é cheio de dúvida.
Lembranças, amarguras.
Apagões no peito,
busco em você a cura.

Eu jamais confiarei em meu reflexo.
Semente do passado,
espelho convexo.

Não existem rimas.
Somente o acaso,
existências primas.

Uma mentira imprecisa,
a violência e o romance do encontro.
O apagar da partida.

O impacto da colisão.
Desfigurar o ser.
Eu me recuso a ser "não".

Uma luz

Objetos sem luz própria
são objetos de sombra.

É o destino do homem,
tabula rasa,
ser complementado por luz.
Iluminado.
Confrontado.
Harmonizado.

De pé sob o firmamento
somos seres sem brilho.
Iluminados por estrelas,
toda vida reluz.

Vamos brilhar um no outro,
refletir estrelas,
adquirir brilhos.
Mãos dadas,
olhos fixados,
corpo e alma.

Somos coisas iluminadas,
seres de luz e sombra.
Conflito e equilíbrio.

Liberdade e martírio.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

La fille du soleil.

Eu quero expressar meu sentimento 
Em mil expressões 
Iluminar o meu contento 
acalentar o teu alento 

Posso ler o seu corpo? 
Rabiscar a torto? 
Sorver o seu eu. 
Meu coração já é teu. 

Incendeia e alumeia, 
não é possível ser meia. 

Te abraço em letra, 
te declamo em poesia. 
Se te penso é sinestesia. 

Você é figura onírica,
ao toque, lírica.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Sonhos em néon.

Poderíamos nós
deitar inertes
sobre estrelas e lençóis?

Poderíamos nós
escrever canções,
criar luz em velhos sóis?

Ainda somos arremedos de vida
partícula minúscula,
comprimida.

O som, a fúria,
a cura e a ferida.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Conversa à três.

Acho necessário
uma conversa de cartas marcadas.
O meu eu do passado,
o meu eu do presente,
o meu eu do futuro.

Que o meu passado
console meu futuro.
Que o meu futuro
não iluda o meu presente.

Precisamos conversar,
eu e vocês.
Sem negações,
uma conversa de cartas marcadas.
Já sabemos muito bem
o que precisa ser dito.

Passado,
só lembra de dores e erros.
Sente sempre medo.
Te peço agora,
não ignore mais os acertos,
os êxtases, aceita o nosso caminho.
Passado,
não segure mais o presente.

Futuro,
sempre se projeta isolado.
Sempre um limite, um ponto final.
Te peço agora,
deixa que nossa história
te permita ir além.
Quero que você vá
até eu te perder de vista.
E que se desdobre sem medo.
A única direção que te concerne
é a da liberdade.
Futuro,
não se apegue ao presente.

Vivamos de acordo.
Ontem
hoje
e amanhã.

sábado, 28 de janeiro de 2017

Dissonâncias e paralelismos.

Aleatórias formas.
Etéreas.
Nuvens, gás.
Imortais.

A margem do tempo
dentro do tempo
Duplas
gêmeas desiguais.

Contornos de preto.
Ilusão de tecido.
Desejos e percepções
Extrasenssoriais.

La Femme en noir qui arrive soudainement




Hoje eu vou amar uma mulher
que nem enxergo mais.

Não são formas,
são contornos de preto
rabiscos de tinta.

Não consigo
escrever-te.
Passou por entre meus dedos,
metros de cabelo,
fios pretos.

Queria ter notado antes
o passar do tempo.
É a única certeza absoluta
que o homem não compreende.

Ter tua imagem
escapado-me tanto assim,
perdi-a a pro tempo.
Argolas prateadas,
deixei cair no chão.

Ontem eu amei uma mulher
que hoje já não mais.