sábado, 19 de novembro de 2011

Jovens.

Nos amaremos enquanto jovens.
Respiraremos o perfume
um do outro nos embriagando com o odor.
Juntaremos nossos corpos,
de pele macia e lisa,
e nos marcaremos
um no outro com o toque.

Olharemos nossos rostos,
nos afundaremos em nossos olhos.
Iremos divagar,
entre os contornos e linhas
de nossos corpos jovens,
de nossos corpos de amantes.
Olharemos um ao outro
para nos fotografar.
Uma imagem
para todo o sempre.

E assim será.
Nos amaremos enquanto jovens,
para que quando velhos e cansados,
não sintamos o odor da velhice e da morte,
mas sim o cheiro perfumado
que nos tragou um para o outro.
Nos amaremos enquanto jovens,
para que quando velhos e cansados,
não sintamos o toque da pele enrugada,
mas sim o toque
que nos difere nos cegos na multidão.
Nos amaremos enquanto jovens,
para que quando velhos e cansados,
nossos olhos apagados e inexatos,
não nos mostrem falsas imagens
ou deixem transparecer o tempo em nossos rostos,
mas sim, para que ao olharmos um para o outro,
enxerguemos somente a fotografia eterna
de dois amantes para quem o tempo não passa.

Nos amaremos enquanto jovens
porque mesmo que o tempo
venha a consumir nossa vida,
a chama que cultivamos com força,
com viço, com vida nova,
se mantenha além de nós
queimando para sempre.
Sempre jovem e eterna.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Corra.

Corra, Miguel, corra. Está frio e a chuva é incessante, mas em momento algum, meu franzino Miguel, pare de correr. Não pare para que seu corpo não esfrie, seu sangue não congele e engrosse e suas veias não aguentem a pressão, não pare para que seu coração continue batendo e sua mente continue alerta. Ah, caro Miguel, não pare de correr. Mas eu vejo, caro Miguel, que você não quer parar, pois olhem lá, é Miguel, ele vem correndo, sem parar, sem tropeçar. Miguel, aonde você vai com tanta pressa? Sei que corre para viver, Miguel, mas vive para quê?
Miguel, corra! Continue, não pare, vejo que apesar desse corpo magro, dessa pele branca e desses olhos fundos, você tem forças. Não questiono sua fonte, sei que é forte por si só, aquela força que todos carregam dentro de si e que alguns conhecem e outros a tem mas nunca a viram. Percebo que não é você quem corre, meu caro Miguel, vejo que é a sua alma que te puxa violentamente, como um pedaço de metal sendo puxado por um imã gigantesco. Você poderia resistir, mas vejo que não, abandonou a consciência e corre livremente, queria saber o que é isso que desperta tamanha paixão em você, Miguel, mas creio que se soubesse talvez não te achasse tão interessante.
Você ainda está correndo, Miguel, mas diga-me, o caminho está quase no fim ou o caminho não tem fim? Vejo que você também não diminui o passo, você não se cansa? Óbvio que nunca me responderá, só estou te observando e imaginando como seria poder lhe perguntar tudo isso, porém, imagino que você não me responderia, nada explica a fome de tudo, a paixão, a vontade, por isso você corre, meu caro Miguel. O que é isso no seu rosto? Chuva, suor? Não, não é isso que escorre dos seus olhos, que tem gosto salgado. São lágrimas. Miguel, choras por quê? Não acredito que seja seu corpo que dói, é a sua alma que queima, não é? Sua paixão e sua vontade te consomem. Por isso corre? Para tentar evitar que essa "maldição" te incinere completamente?
Miguel, que expressão nova é essa no teu rosto? De espanto, de desespero, parece seu último suspiro e último impulso. Percebo que você avistou algo, onde está? Não vejo. Miguel, o que é que você vê?! Você está cambaleando, a atração está mais forte mas seu corpo está desmoronando lentamente. Não é cansaço, é a areia da praia que te atrapalha, seus pés afundam e seu corpo se sente tentado a afundar lentamente junto. Sinto que você está chegando mais perto, mesmo assim ainda não avistei o seu objetivo, Miguel. Será que esses meus olhos não enxergam ou será que o que você vê não pertence à minha realidade? Miguel, você parou de correr? Não, corra, sua vida depende de que você corra! Sempre, correndo, ofegando, se jogando, se atirando. Não entendo, por que você está andando tão vagarosamente? Está muito perto, eu sinto. É isso, você chegou.
Miguel desmoronou na areia, molhado pelo vai e vem da maré. Olhos atentos, semi-cerrados, debilmente tentando se manter abertos. Não sei o que aconteceu. Não sei se Miguel foi consumido pela sua paixão ou se morreu de cansaço, sei que Miguel não levanta mais. Adeus, Miguel, não posso mais lhe observar, um outro dia , talvez, eu te verei novamente, correndo por aí, se jogando, se atirando sem pensar.