sábado, 2 de abril de 2022

Na maré cheia o mar abraça a solidão


Toda vez que vejo o mar,

penso em sumir.

Levar apenas o pouco

de tudo que tenho.


Eu já cantei sobre o mar.

Eu já falei sobre o mar.

Eu já li sobre o mar.

Eu já escrevi sobre o mar.

Eu já nadei no mar.


Quando penso no mar,

penso em submergir.

A sensação de isolamento,

o ruído das ondas por cima da minha cabeça.

Aqueles breves segundos debaixo d'água,

aquele infinito solitário.

Esquecido, apagado, livre.


Eu já sonhei minhas várias mortes,

mas quando sonho com o mar

nunca fui capaz de morrer.


Porque no fundo eu sempre quis estar vivo,

na superfície eu quero estar vivo.

Então sempre nado pra cima,

pra frente,

a direção que me leve pra terra firme.


Que seja, vou viver até sumir.

Por hoje me contento

em olhar o mar.