segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Gravura

O brilho do sol nos teus olhos.
A luz dos teus olhos:
caleidoscópios, auroras boreais.

"A linha do mar sempre está na altura dos seus olhos" 
O mar dos teus olhos:
praias de areia dourada, águas de ondas verdes.

Amor nos teus olhos.
Amar nos seus olhos:
olhar as manhãs e as noites,
enxergar você.

O amor em você.
Amar você
e isto somente.



terça-feira, 9 de agosto de 2022

Estranhos conhecidos

Quando éramos estranhos um ao outro,
descobrimos que na verdade já nos conhecíamos.
As mãos já sabiam os caminhos.
Os pés, os passos.
Os lábios, os beijos.
A voz, as palavras.

As nossas descobertas
mostraram que já estivemos nos mesmos lugares.
Não que isso mudasse alguma coisa.
Eu quis continuar descobrindo
pra te reafirmar por dentro.

Te alimentar com os fragmentos de mim
que você desconhecia.
Receber em troca o mesmo
em doses homeopáticas.

Viver os dias de serenidade
segurando mãos cujos nós se entrelaçam.
Vibrar o corpo em ondas
nos enlaces.
Desfazer a saudade
em horas, minutos e segundos compartilhados.
Sentir com calma e certeza
como mares calmos de águas quentes.

A grande ironia é esta ideia:
habitar tantos lugares em comum é tão absurdo
que no fim o que predomina é o imponderável,
o lugar fora do comum,
o reino da surpresa e da descoberta.
Ainda bem.

Como é bom poder te (re)encontrar.
Como é bom poder te (re)descobrir.



segunda-feira, 13 de junho de 2022

Amar e mudar as coisas

Tem dias em que queria somente entregar tudo.
Doar cada pedaço,
derramar cada parte de mim.

Queria me entregar pra tudo e todos.
Que sentissem meu carinho,
que meu amor os acolhesse.
Encher os pulmões
e o peito das pessoas de coragem,
emprestar toda a minha força.

Queria entregar tudo
pra que eu pudesse partir.
Viver pra sempre nos outros
sem me preocupar em me fazer presente.

Queria entregar tudo
para fazer os que eu amo eternamente felizes.
Doar tudo
pra me desfazer de mim mesmo.

Um sonho narcisista, megalomaníaco, egocêntrico.
Como se eu pudesse tomar para mim
as dores de todos.
Como se eu tivesse a capacidade
de curá-los, salvá-los.

Se quero viver pelos outros,
com os outros,
primeiro preciso viver para mim.

sábado, 11 de junho de 2022

A memória escrita do meu amor passado

Escrevi isto pra te dizer
que não sinto mais a sua falta.
É verdade, mas não é pra te doer.
É pra te libertar também.

Transformei você
na única coisa que podia.
Te transformei em memória.
Fiz com todo carinho
esse cristal de amor.




domingo, 5 de junho de 2022

Mãos abertas

Se eu pudesse abrir meu peito
jorraria o mar.
E inundaria todos os momentos,
salgaria todas as memórias
para assim conservá-las.

Eu quero viver outras vidas,
mas ultimamente vivi dezenas.
Estou carregando todas comigo.

Amar outros amores,
abraçar meus amigos,
cantar outras canções,
andar na chuva mais vezes,
caminhar de noite,
sofrer outras dores,
todas as coisas que acontecem no meio.

Quando abrir essa porta
vou encontrar alguém novo.
Serei eu.

domingo, 29 de maio de 2022

Os caminhos

Quero caminhar sozinho.
Na verdade, 
quero reaprender.
Ouvir o barulho dos meus passos
e estar em paz apenas com isso.

Aprender a dirigir um carro,
cair na estrada antes do sol raiar.
Pedalar sozinho às 4 da manhã
enquanto uma cidade dorme,
como eu já fiz tantas vezes.

Voltar pra casa da minha infância 
              [com seus quartos vazios
e dormir sozinho na sala.
Deitar na varanda à noite,
barulho do vento nas árvores,
cheiro de sal e flores.

Na minha solidão
me reencontrar.

Mas enchi meu peito de outras vozes,
de outros afetos, outros sentimentos.
Enchi minhas mãos de calos,
de outras linhas, de você.
Não me arrependo de nada,
muito pelo contrário.

Quero me encontrar dentro de Mim,
não em Você.
Mas um dia,
quem sabe,
o Eu que se encontrou
encontre Você mais uma vez.

Torço pra que sim.
O destino já se mostrou mais teimoso
do que eu jamais fui até hoje.


sábado, 28 de maio de 2022

A vida de agora será uma memória no futuro

Aprendi a viver de novo.
Aos tropeços, mas aprendi.
Aprendi a viver o novo (de novo)
com a ingenuidade de uma criança.

Aprendi a recuperar o tempo,
reconquistar o que deixei ficar pra trás.
Viver novos capítulos 
para antigas histórias.

Dar voltas em novos corpos.
Descobrir novos significados em velhas palavras.

Descobri um novo caminho
que me leva a mim mesmo.

sábado, 2 de abril de 2022

Na maré cheia o mar abraça a solidão


Toda vez que vejo o mar,

penso em sumir.

Levar apenas o pouco

de tudo que tenho.


Eu já cantei sobre o mar.

Eu já falei sobre o mar.

Eu já li sobre o mar.

Eu já escrevi sobre o mar.

Eu já nadei no mar.


Quando penso no mar,

penso em submergir.

A sensação de isolamento,

o ruído das ondas por cima da minha cabeça.

Aqueles breves segundos debaixo d'água,

aquele infinito solitário.

Esquecido, apagado, livre.


Eu já sonhei minhas várias mortes,

mas quando sonho com o mar

nunca fui capaz de morrer.


Porque no fundo eu sempre quis estar vivo,

na superfície eu quero estar vivo.

Então sempre nado pra cima,

pra frente,

a direção que me leve pra terra firme.


Que seja, vou viver até sumir.

Por hoje me contento

em olhar o mar.