domingo, 21 de outubro de 2012

This river is wild.

Torrencialmente. Cai, escorre pelos sulcos das telhas e transborda nas calhas. A tempestade repentina que inunda a cidade e carrega tudo. Carrega sujeira, carrega gente, carrega vida. Carrega as máscaras, os carros, o mundo. E lá vamos nós pela corrente. É natural da gente, perder o rumo, cair no rio e descer sem direção. Fazer parte do rio e esquecer quem é, mesmo que por um momento sendo parte de um todo, sem identidade única.
Problema é que estamos acostumados a lutar contra o natural. Vamos tentar subir o rio, galgar as pedras e chegar à margem. Vamos ser nós mesmos, pisar nessa terra com nossos próprios pés, enquanto nos afastamos da correnteza. Seguraremos essa terra que se desfaz em nossas mãos e caminharemos deixando nossas pegadas no chão. Mas a chuva, a tempestade repentina, ela escorrerá silenciosamente apagando as pegadas e fingindo que não existimos.
Fato é que essa terra que pisamos, essa mesma terra que desfazemos em nossas mãos será carregada para o rio e nele haverá um pouco de cada um de nós. Cada pequena pedra no leito que permanecerá imóvel contra a correnteza, cada pequeno grão de areia que se acomodará no chão. Enquanto nós vamos embora nos afastando da margem, a chuva continua a escorrer sobre nós. Torrencialmente.