quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

 Algo mudou. Na verdade, muito já mudou e um outro tanto parece se precipitar em direção à mudança também.  Recentemente me peguei lembrando de você, mas não da mesma forma de antes. Ainda que exista a falta, a saudade, a memória não me doeu nestes lugares. A memória me trouxe ternura, um aconchego, me senti feliz em poder lembrar de você e me sentir assim.

Recentemente quando vejo algo e penso no que você diria, acho divertido. Escuto sua voz, vejo a expressão que você teria no rosto, até mesmo as palavras que diria. É como levar você comigo. Uma forma mais amena de sentir essas dores que a sua ausência traz e uma lembrança de que todo sentimento é orvalho, se precipita e repousa dentro do peito.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

 Um dia desses me lembrei de um vídeo que assisti. Um breve relato de uma mulher. Ela falava sobre como se sentia, descrevia seu embate com a solidão. Dizia que ultimamente se sentia muito só e que a solidão lhe pesava nos ombros. Esse vazio a acompanhava independente de onde estivesse e com quem estivesse. Ela rejeitava essa solidão e a deixava por si só. Até que em um determinado momento, ela passou a se sentir confortável com ela. A solidão fazia parte de sua vida. Ela encerrou com uma frase que ia mais ou menos assim:

- Agora quando chego em casa, eu encontro a solidão sentada no meu sofá, esperando. Então eu sento ao lado dela e lá permanecemos juntas, nos tornamos amigas.

Eu lembro que fui curioso ler os comentários, pessoas perguntando se ela estava bem, se tinha alguém que lhe fizesse companhia. Ela respondia educadamente "tenho tudo", tinha amigos, namorados, família, trabalho, enfim, ingredientes de uma vida que não é solitária. Acontece que mesmo que tenhamos "tudo", sempre faltará algo. Nossos vazios existenciais, eu acho que ela entendia isso. E hoje eu acho que entendo melhor também.

Nunca teremos tudo e sempre buscaremos algo, essa é a nossa pulsão enquanto seres humanos. Assim como buscamos e descobrimos outras pessoas, descobrimos que elas nos preenchem de coisas que queríamos ou sequer sabíamos que existiam. É simplesmente natural. Mesmo assim, os vazios permanecerão lá. O primeiro passo, para mim, é racional: os vazios existem, eles não serão preenchidos. O segundo passo é... emocional? Espiritual? Não sei, mas o segundo passo é sentir e aceitar o sentimento desses "buracos". Esse é o difícil.

Recentemente eu senti a solidão e de início também a rejeitei, até de maneira desesperada. Eu não queria passar pela minha sala e ver a solidão no meu sofá. Sobretudo, eu não queria passar pela minha sala e ver alguém que não via há muito tempo lá também: eu mesmo. Isso tem sido mais calmo ultimamente, tenho me pegado apreciando a minha solidão, os meus silêncios, a minha própria companhia.

Hoje também chego em casa, olho pro sofá e vejo a minha solidão, vejo a mim mesmo e alguns dos sentimentos que tenho por você, nós nos sentamos juntos, acomodados. No futuro sei que sentarei ao lado dos outros sentimentos que ainda me são dolorosos, mas vou precisar de um sofá muito grande, pois são todos enormes e numerosos. Hoje tenho alguns novos amigos, inclusive eu mesmo.





quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

 Nós vamos nos curar, eu sei.



quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Ontem acho que finalmente consegui aceitar um sentimento, depois de tanto tempo. Aceitar um sentimento envolve não ter vergonha de si por senti-lo. Aceitar um sentimento envolve deixar que se sinta, mesmo que não seja o que você quer, o sentimento precede a própria vontade. Aceitar um sentimento envolve aceitar a dor que ele traz.
Ontem aceitei que quando penso em desejo, ainda penso em você. Por mais que isso me doa, por mais que ao tentar desejar outras pessoas, o desejo escoe de volta para você. Isso machuca, mas poder aceitar me trouxe um pouco de paz.

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Por favor, sai da minha cabeça, do meu corpo, do meu desejo, sai de dentro de mim. Por favor. Eu sei que eu já saí de você, agora você que me deu tão pouco e me tomou tanto, vai embora, só isso que te peço. Eu não posso fugir, mas você pode ir.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Pausa

A minha vontade de viver não respeita
a minha necessidade de sofrer.

Ser esmagado pela própria força,
o desejo desesperado de ser.
Este coração sangra,
despeja em litros,
há sede.

Mas estes pés andam,
a despeito do cansaço.
E estas mãos agarram
o próprio ar.

Há tanta vontade,
tanto desejo,
tanto tempo.

Tempo de sofrer,
tempo de querer.
Tempo para cessar.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

A natureza indomável das coisas ou porque temos que aceitar que não controlamos quase nada

O amor é um cavalo de vidro
É delicado e violento
Demanda cuidado,
mas precisa ser livre.

Não adiantar tentar dominá-lo,
é melhor deixarmos que vá.
Podemos sofrer ansiosamente
a sua ausência,
a incerteza de sua volta.
Ou podemos admirá-lo correr,
felizes em vê-lo andar solto,
tranquilos da sua natureza.

O amor não se dá,
não se toma,
ele galopa e adentra sem pedir.
E se ele vai embora
ou se parte em mil pedaços,
ele deixa sempre ao menos um fragmento.
Prova de que existiu aqui
um animal selvagem,
forte e frágil ao mesmo tempo,
mas sobretudo livre.

O amor é um cavalo de vidro
e eu consigo te ver através dele.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Em meio a tanta confusão, você ao menos sabia que não queria estar ao meu lado.


domingo, 5 de janeiro de 2025

Tannhäuser

Eu não estarei ali
Eu não serei encontrado naquelas fotos
Minha voz não será ouvida nestas e outras palavras mais
Não estou mais naquelas músicas
Naqueles filmes

Eu não estarei ali
Não estarei nos sorrisos dados
Nos olhares cruzados e sustentados
Nas roupas vestidas e guardadas
No cheiro dos perfumes e outras fragrâncias

Eu não estarei ali
Não serei sentido nas emoções conhecidas e revividas
Não serei refletido por outros espelhos, projetado por outras imagens de alguém

Eu estarei onde eu quero estar
Independente de onde e do que for