segunda-feira, 21 de julho de 2025

Obrigado pelos peixes

Sinto no ar aquele cheiro
cheiro de partida.
E não sinto mais medo,
ou culpa, ou vergonha.

Quero fingir que acredito
não saber quem eu sou.
Quero estar nesse lugar,
onde ninguém me conhece,
onde não conheço ninguém
e finjo que me desconheço também.

Na verdade pouco me importa,
ninguém ou alguém.
Quero que a minha partida
seja só minha.
E se não me conhecem, tudo bem.
Eu me conheço
e a cada dia me conheço mais
na medida do meu próprio desconhecimento.

Ser desconhecido no desconhecido.
Ser conhecido a cada parte desconhecida.
Eu vou e só sei que vou.

quinta-feira, 3 de julho de 2025

As muitas mortes de um artesão de memórias

Foi como morrer de novo
e ainda que eu saiba
que só se vive uma vez,
morre-se muito mais de uma.
E eu sei dizer
cada uma dessas vezes em que morri.

Foi como se algo se quebrasse
ou fosse quebrado.
Uma estátua de você que, finalmente,
despedacei com gentileza
e com as minhas próprias mãos.

Talvez assim, quem sabe,
você se sinta em paz também
ao saber que morre o último registro pulsante
dessa versão ultrapassada de você.

Morre, enfim,
a última versão de mim
que carregava por dentro
uma velha noção de você.




Essa nunca foi uma história de abandono, é uma história de escolha.