Sinto que deveria te escrever esta pequena carta, mas não enviá-la. Quero a princípio apenas que ela exista e que o que foi dito aqui exista também. Não sei se você será capaz de lê-la algum dia, se vai esbarrar com ela em algum momento de curiosidade ou de lembrança, por enquanto basta que ela exista e que se um dia você chegar a vê-la, saiba que é tudo verdade.
Não vou te enviar esta carta porque sinto que a distância entre nós é hoje um lago com um equilíbrio delicado, águas calmas que não devem ser perturbadas. Vou guardá-la então, no fundo destas águas. Esta carta é um pedido de desculpas, por coisas que já foram ditas. É importante pra mim. Mesmo que sejam desculpas jamais encontradas ou aceitas, elas são o reconhecimento de um erro.
Um dia desses eu disse aqui que você havia "me dado pouco e me tomado muito". Isso não é verdade. Nunca foi. Esse cálculo não existe além da neurose, depois que ela se esvai e vem a calma e aceitação das coisas que foram e que são, a verdade para mim é esta: você me deu o que você quis e pôde me dar, assim como eu dei o que quis e podia te dar. Longe de sermos insuficientes ou exagerados, fomos apenas o que podíamos ser. Assim como agora tenho certeza que estamos tentando com todas as forças nos transformar naquilo que ainda não somos e não sabemos o que será.
Esta carta existe e sempre existirá, mas nós que fomos, daqui em diante não mais seremos os mesmos. Com muita esperança te digo que seremos outros, não melhores, nem piores, apenas o que precisarmos e quisermos ser.
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